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Flor de Nadas
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Tem esse calor que dissolve as velas - o sol suado fora das lápides - e tem a chama que faz o mesmo, do lado de fora do fio apaixonado há o corpo puro dado aos desejos dos dias, e à espera de ser queimado por uma fé alheia, ouço dessas irmãs-brancas encostadas nas mármores das sepulturas um doce canto sobre nossas juventudes, que tão fugazes saem de suas vidas, é a mesma ladainha que dá o tremido da chama, ou à sua altura quase tocando o céu religioso de quem a acende. Pelas alamedas do cemitério passam cabisbaixos os meninos órfãos e as viúvas - sonhos e esperanças de quando somos apenas crianças - a maturidade dos anos dissolvem nossas peles como parafina, e o coração-pavio faz o caminho desse fogo que nasce do sorriso alheio, minha fé nata.
Ouvi da beleza das minhas irmãs brancas:
"- A juventude e o fogo são nossa flor de nadas."
domingo, 28 de outubro de 2012 - 20:52
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A Amêndoa de Ouro
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Sei que é no Sol onde planto essa semente, e os dias me trazem cordas para chegar até lá, faço do caminho um embaraço de sonhos, meus e alheios, ou então uma estonteante escada amarrada ao Mistério nos confins do zênite, eu sou uma amêndoa de ouro com sede de águas vulcânicas prometido à felicidades, e essas folhas douradas vivem das luzes de muitos olhos, mas eu sou livre e voo por todas as estradas, sou o encanto de abelhas cegas, viajantes do Tempo no rastro perfumado da beleza, quando meu crepúsculo e alvorada tocarem seus peitos um no outro parto de minha casca, vou dedilhar os horizontes com meus pés de vento e por ai fazer matas, mas daqui, muito antes disso, eu sou o amuleto do futuro, entediado na fé que só me guarda.
quinta-feira, 25 de outubro de 2012 - 04:28
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As Arcas
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Não me diga você - tão inteligente quanto tu és - que o corpo é só o quê te vale nesse primeiro encontro, não seja tolo como um caçador de tesouros já no fundo escuro de uma longa busca, que desdenha a arca fechada diante de si só por saber dos oceanos cheios de outras. Pois se o sonho te levou até essa, dê-se à tua salvação e graça ao brilho de abrí-la.
Do sacudido que dou ao cofre do tempo, escuto:
'- Meu coração é tua chave.'
domingo, 21 de outubro de 2012 - 22:20
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O Amor Próprio
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Estou pensando no amor que não me dei, no furo que existe em meu peito, nesse deixar fluir constante de todas as águas e desgostos, no largado coração que agora remanesce como um cão-cadáver no leito caudaloso de medíocres histórias.
O Amor Próprio é a chama que ilumina as salas espirituais de nosso peito, e sem ele perdemos para os dias e anos - tão céleres - a chance de admirar o Deus que vive ali, não adianta as janelas e sua parca claridade, o quê se vê afora é apenas o brilho de um teatro louco, cansado de si mesmo no tanto pesado de realidade e mentira que carrega.
O Amor Próprio é um exército de fé a proteger nosso reino por várias trincheiras, uma guarda poderosa com armas invisíveis a serem mencionadas com orgulho no final de nossas pequenas epopeias. E no fogo da guerra, nos minutos e dias - tão céleres - a menor chama dele será um Sol clareando os desafios, e o Sal para olhos do inimigo.
O Amor Próprio é a verdade dentro do Sim e do Não, é a mesma amêndoa em diferentes polpas, descascada de medos e preparada com energia não há nada melhor para ser alimento e cultivo, dentro das respostas do mundo há suas perguntas, bem aventurado aquele que além de escutar, diz.
Filho mais forte e mais responsável da coragem, cuida de seus irmãos como se fosse um segundo pai, deveria ser o primogênito, ainda que costumeiramente vem depois de muitos abortos, e todo choro é um aborto legítimo, sagrado e digno, desde que seja para encher a pia batismal onde o padrinho de novos dias - vindo da inspiração alheia - possa consagrar as novas crianças.
E vitórias são para os que se amam, e nenhum outro, pois não há dignidade em cadáveres, não saem limpos ou inteiro de seu tempo de desfazimento, sem vida, não se desgarram das águas que lhe trouxeram até ali, e a esses foi proibido de serem trazidos ao templo, os mortos são ali apenas amêndoas de si mesmos e cultivo já semeado, uma verdade com o tamanho de seus nomes.
Constantemente é um fogo roubado, quando deveria ser uma chama partilhada, de vela em vela, de palavra em palavra, mas a verdade é que - para alguns - ter o Amor Próprio passa por assaltar o dos outros, e isso está em tuas escrituras sagradas, ou nas alheias, basta deixar a eucaristia de Teu Olhar ser trocada pelo carnaval do Dizer Inimigo.
Um palácio vira sepultura se o rei não pode sair, cuide para seu Amor Próprio não endurecer até o Egoísmo, semente boa é aquela que nos dá outras.
O Amor Próprio é uma religião, mais sagrada que qualquer outra, não por estar mais perto ou mais longe de Deus, mas por estar com Ele em nosso altar de músculos e ossos, independente de quando e como, todos temos o direito de sermos como somos, bons ou maus, terríveis ou maravilhosos, desde que na sagrada abnegação ou desejo. E a ceifa passará suas lâminas para a colheita do tempo, levando alimento e fome para os próximos amanhãs.
Ouvi em uma missa entre as velas, os corpos encalhados e os reis:
"- Bem aventurado o sorriso e o choro verdadeiro, colhidos na lavoura de luzes dentro de ti."
domingo, 14 de outubro de 2012 - 07:01
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