Dos Crepúsculos
 
Durmo com um sonífero infalível, as janelas para o nascer do sol dão ao seu pôr, o crepúsculo deixa metade das cores descansadas no passado e a outra parte viva, a me lembrar de tudo quanto é ontem. Por baixo do lençol de seda as cidades da minha memória me puxam a um sonho interminável, durmo com um sonífero infalível, deito ao lado de meu legado.

Não há nada mais triste e feliz ao mesmo tempo que o sol nascido morto, abortado pela impaciência de meu útero de esperanças, o amanhã acorda na cama desfeita de pessoas ignorantes, o mundo não sabe para onde ir, e a janela está aberta, aponta para um céu apagado, meus olhos doem por não haver luz suficiente, tento ler no escuro os sinais de uma nova vida, porém o veludo da cama me acalma no abraço do desapego, e eu sinto que a paz é o que realmente dizem, um amontoado de desistências, de verdades opressoras e de janelas para tristes horizontes, a paz não convida ninguém a dançar. E digo, quem me ama carrega uma compaixão, olha para meus olhos fechados para o dia, abertos para minha interna noite, quem me ama ouve em si um apelo meu:


"- Tira de mim esse sonífero infalível!"

terça-feira, 13 de abril de 2010 - 05:33

            Lopes Castro Gustavo


 
  • Deus em mim.
  • Da Tempestade às Conchas.
  • O passado passando.
  • Metade do Agora
  • A Peste
  • ... 1
  • Teu papel.
  • No caminho das chegadas.
  • A Lâmpada
  • O Abandono
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