Deus morto.
 
Fui a um velório único: dentro do esquife estavam lá todos os sonhos para os homens, e eu chorei dolorosamente, a carpideira se invejou de meu sofrimento e aproximou-se me xingando, dizia-me que eu não tinha o direito de velar aquele corpo, aquele defunto era um pertence daqueles que estavam muito perto desde sempre, e dizia ela que eu estive longe de todos os sonhos para os homens, que eu fui a dianteira dos passos, eu nem respirava onde sobrevoei as nuvens, eu estava tão distante que escorreguei nas terras frias de luas dos planetas distantes, estava lá meu coração intocável, eu não tive como corrigir a velha dama, eu parei de chorar assim que aquilo tudo me preencheu com lembranças, então acordei de mim, ressurecto de uma noite triste, olhei para o caixão e nele vi o rosto de Deus morto, morto diante de mim, não parecia que qualquer coisa a partir de agora iria fazer sentido, eu me perguntei o que foram as eras, os homens e os palpites? Do que adiantou tanto caminho? Tantas direções para diferentes ninhos? Onde as coisas dormiram? Eu não vi nascer nada comigo, agora estou diante do Deus falecido, e as coisas continuam ao meu redor como antes foram, não deveria tudo se apagar junto com Ele? Onde está o coração de Deus que ainda pulsa, porque sua imagem e ossos estão diante de mim chorados pelos entes mais próximos que o acompanharam por todas as eras, por todos os homens e palpites, onde está o Deus vivo? Ao redor de mim tudo continua como ontem.

Voltei-me a carpideira, agora sorrindo, e perguntei onde estava o Deus vivo, já que o morto era chorado ali, ela sem saber me responder fez um silêncio como o do santo cadáver, e eu li em seus olhos:

"- Chorei em vão?"

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010 - 12:07

            Lopes Castro Gustavo


 
  • Da mágica chuva.
  • Prece aos penhascos.
  • O Nome
  • Dos Crepúsculos
  • Deus em mim.
  • Da Tempestade às Conchas.
  • O passado passando.
  • Metade do Agora
  • A Peste
  • ... 1
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