O Amor Próprio
 

Estou pensando no amor que não me dei, no furo que existe em meu peito, nesse deixar fluir constante de todas as águas e desgostos, no largado coração que agora remanesce como um cão-cadáver no leito caudaloso de medíocres histórias.

O Amor Próprio é a chama que ilumina as salas espirituais de nosso peito, e sem ele perdemos para os dias e anos - tão céleres - a chance de admirar o Deus que vive ali, não adianta as janelas e sua parca claridade, o quê se vê afora é apenas o brilho de um teatro louco, cansado de si mesmo no tanto pesado de realidade e mentira que carrega.

O Amor Próprio é um exército de fé a proteger nosso reino por várias trincheiras, uma guarda poderosa  com armas invisíveis a serem mencionadas com orgulho no final de nossas pequenas epopeias. E no fogo da guerra, nos minutos e dias - tão céleres - a menor chama dele será um Sol clareando os desafios, e o Sal para olhos do inimigo.

O Amor Próprio é a verdade dentro do Sim e do Não, é a mesma amêndoa em diferentes polpas, descascada de medos e preparada com energia não há nada melhor para ser alimento e cultivo, dentro das respostas do mundo há  suas perguntas, bem aventurado aquele que além de escutar, diz.

Filho mais forte e mais responsável da coragem, cuida de seus irmãos como se fosse um segundo pai, deveria ser o primogênito, ainda que costumeiramente vem depois de muitos abortos, e todo choro é um aborto legítimo, sagrado e digno, desde que seja para encher a pia batismal onde o padrinho de novos dias - vindo da inspiração alheia - possa consagrar as novas crianças.

E vitórias são para os que se amam, e nenhum outro, pois não há dignidade em cadáveres, não saem limpos ou inteiro de seu tempo de desfazimento, sem vida, não se desgarram das águas que lhe trouxeram até ali, e a esses foi proibido de serem trazidos ao templo, os mortos são ali apenas amêndoas de si mesmos e cultivo já semeado, uma verdade com o tamanho de seus nomes.

Constantemente é um fogo roubado, quando deveria ser uma chama partilhada, de vela em vela, de palavra em palavra, mas a verdade é que - para alguns - ter o Amor Próprio passa por assaltar o dos outros, e isso está em tuas escrituras sagradas, ou nas alheias, basta deixar a eucaristia de Teu Olhar ser trocada pelo carnaval do Dizer Inimigo.

Um palácio vira sepultura se o rei não pode sair, cuide para seu Amor Próprio não endurecer até o Egoísmo, semente boa é aquela que nos dá outras.

O Amor Próprio é uma religião, mais sagrada que qualquer outra, não por estar mais perto ou mais longe de Deus, mas por estar com Ele em nosso altar de músculos e ossos, independente de quando e como, todos temos o direito de sermos como somos, bons ou maus, terríveis ou maravilhosos, desde que na sagrada abnegação ou desejo. E a ceifa passará suas lâminas para a colheita do tempo, levando alimento e fome para os próximos amanhãs.

Ouvi em uma missa entre as velas, os corpos encalhados e os reis:

"- Bem aventurado o sorriso e o choro verdadeiro, colhidos na lavoura de luzes dentro de ti."










domingo, 14 de outubro de 2012 - 07:01

            Lopes Castro Gustavo


 
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