Cartas à Sinceridade
 
Eu duvido que em mim haja melhor vértebra que as muitas colecionadas em teu nome, eu sou um esqueleto de princípios, e esse me faz andar seguro no horizonte do nosso destino.

Não há melhor estrutura, volto a lhe dizer, não há! Mas também tenho que admitir o quanto me envergo uma vez lhe tendo dentro de mim. Quando assim estou, guardo o medo de parecer ridículo diante dos outros aprumados, dos outros preparados para ver a Verdade de frente.

Tenho também inveja dessa gente ao meu redor que sinceras são. Homens e mulheres, numa contagem escassa, mas de uma significância infinita, uma vez em suas simplicidades me deixam apavorado, eu achando que meu governo pessoal não hasteou certo o mastro em nome da bandeira, e agora me recolho por baixo dos panos dela, tentando se proteger numa sensação de idolatria à causa da sinceridade, ao invés de fazer o certo e abrir o peito na reverenciação à virtude.

Guardo sim, todo o peso do mundo por não ser sincero o quanto gostaria, talvez porque eu esteja envergado demais e seja fácil pedir licensas para se esconder, eu não teria outra forma de explicar, afinal não é para todo mundo a beleza de se pagar o preço de estar diante de tudo.

Minhas palavras vão até você Sinceridade, mas eu mesmo sei que não é suficiente ser sincero contigo, vão até você no entanto, querendo ser enviadas de verdade a mim, talvez eu tenha medo de abrir a correspondência como já tenho em avançar com cada palavra, e eis cada uma delas aqui, endereçadas a ti como primeiras mãos antes das minhas, como uma mãe que recebe uma carta sobre o filho, e na verdade se sente carregando a mensagem agora na voz que realmente pode ser escutada.

Eu sou assim, poético comigo, penso que se tratar as palavras com algum capricho estilístico vou torná-las mais audíveis ao meu senso de realidade, mesmo parecendo tão doida a idéia, pois seria também honesto e eficiente ser direto e prático, ainda assim, com toda minha inclinação em direção ao cheiros mais baixos, prefiro a poesia ao ler os fatos.

Eu estou errado Sinceridade? Responda-me! Eu estou errado?

Vamos combinar que as palavras foram enviadas, que é tua vez agora de trazer em sua boca a mensagem que lhe enviei, pode ser dito a mim com poesia ou sem ela, mas eu preferiria com, diga-me sem medo de me assustar, pois sei que a coluna dentro de mim é fraca porém real, ela saberá segurar os pontos mais pesados dentro do meu nome e significado.

Eu vou ficar esperando, selado com endereços firmes, carregarei essa carta por muitos metros e quilômetros dentro do horizonte nosso, um dia abro minhas mãos, e a tiro do peito protegido, colocarei numa caixa de correio, achando que daqui por diante andará com as vértebras que eu não consigo carregar a coragem em tudo que se diz de mim.

quinta-feira, 10 de abril de 2008 - 11:33

            Lopes Castro Gustavo


 
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