O Abandono
 
É um gesto puro, simples e irrefreável, eu fiz, você pode fazer, todos nós fazemos quando menos imaginamos, por que não repetir? Abandonar... ...parece tão terrível a história desse verbo, desse gesto, desse libertador.

Quero abandonar tudo, talvez a mim primeiro, ou então aos outros, quero abandonar a tudo, uma a uma das coisas ao redor, não preciso de nada, só de ser inteiro, e nem nisso quero me manter preso, abandonar as idéias e os conselhos, quero ir para sempre, indo, indo, assim, sem parar para ter, para pegar, para sofrer ou manter o já, eu quero ir embora de todos os assuntos, afinal, qual seria minha familia com eles? Eu posso lhe responder mas não quero também laços contigo, nem nas idéias sobre meus passos comigo, fecho aqui minhas apresentações, fecho aqui o fim e começo de tudo, sentado esperando mais nada, ou indo, indo, indo até onde o mar começa, deixando para trás sua vontade de ficar no mesmo lugar, e eu vou atrás dela, sem saber onde vai dar.

terça-feira, 22 de abril de 2008 - 06:37
 


Ingressos Para Ir
 
Ganhei de um amigo ingressos para entrar em uma outra idéia, e fui, fui até não mais querer explicar o porquê saí do antes, fui andando mesmo, arrumando aos poucos minha mochila com o quê encontrava pelo caminho, e mal fechei a jaqueta que usava quando então vi a porteira final do antigamente, ajeitei então as alças da mochila e me aproximei devagar da claridade imensa que vinha dali, era uma paisagem vasta, com platôs de rocha por todos os lados e um céu azul, eu via tudo aqui com a jaqueta ainda aberta, uma brisa quente vinha do cenário e eu então senti todas as temperaturas do meu futuro, que oscilava entre o quente e o gélido rapidamente, também vi as cores do mato e da grama sortearem saturações de vermelho e verde, cheguei ao ponto de ficar tonto com tantos movimentos e sentimentos, de repente, um passo à frente, e entrei de vez onde os ingressos me permitiam, lá estava eu no maior parque de diversão de todos: meu auto-conhecimento.

sábado, 19 de abril de 2008 - 21:07
 


O Caminho Pelas Sombras
 
Havia muita revelação das coisas dentro de mim, e eu via tudo isso como se sentisse diante de um escândalo, super impressionado com as luzes de cada assunto terminei enfim entendendo o devido valor disso tudo que eu guardava.

As luzes então começaram a escapar, como vaga-lumes de um vidro, eu fiquei vazio e pronto para recepcionar outras coisas, eu fiquei humilde em relação ao meu ontem.

Talvez as luzes de um outro tempo realmente conseguiram me sufocar, antes eu tinha um pesadelo revelado, e meus olhos se ofuscavam com a grandeza falsa, eu vi mais do que realmente tocava o tanto assustador que é o sol dentro de cada coisa.

Mas até aí tudo normal, preenchido de um pensamento muito gentil ou politicamente correto, desenvolvi a habilidade emocional de abraçar todas as possibilidades e valores que eu pudesse, versus a isso tive uma postura arredia e intocável, só para que dentro de mim sobrasse tempo para degustar cada sol que se aproximava e dormia em mim.

Muitos sóis couberam nesse vidro, assisto a todos eles com o peso esperado de alguém que tem estrelas na barriga, e isso me cansou, a ponto de ficar sem energias ou visão.

Cego, cansado e pronto para desistir dos velhos ontens eu deixei escapar os valores de tudo, e se esvaziou assim os vaga-lumes de cada coisa, piscaram antes de sumir na escuridão ao redor, e um sol gentil começou a nascer distante.

Quando foi hora alta para ele estar bem acima de mim, as coisas não tinham em seus corações os brilhos de antes, e tudo começou a fazer sombra, e eu segui pelo caminho da humildade, sem ter dentro de mim os valores que antes possuía.

Os entendimentos anteriores agoram brilham em alguma constelação num passado pouco importante, o meu sol unitário está ao meio-dia dos fatos, gerando um caminho reservado para eu não machucar minhas peles.

Pode ser que eu não esteja mais impressionado com as coisas, e isso me deixe sem falar delas em cada palavra sobre mim, afinal não há mais brilhos carregados, e o peso da experiência é leve como se eu estivesse vazio de verdade, mas a verdade é que não estou e nem nunca estarei, porém nada recicla minha vivência, antes abre novas clareiras para matas que deveriam resistir eternas naquele lugar, guardando seguros os vaga-lumes desconhecidos, e seus caçadores ao redor, cheio de peitos vazios, como são meus olhos agora.

Eu estou fugindo para a mata, lá há sombra suficiente e já me chega um sol ao meio-dia, vou tomar conta dos vaga-lumes ao meu redor ao invés de dentro de mim, há um princípio de humildade nascendo nos meus itinerários, as palavras foram abertas e sóis escaparam para ficar em ontens a cada passo mais distantes.


Não tenho mais valor, não tenho mais brilho, não tenho mais nada a carregar dentro de mim se não a vontade de estar sempre leve, e com os ontens brilhando bem longe daqui.

quarta-feira, 16 de abril de 2008 - 18:24
 


O Fim dos Exércitos
 
Acabaram as guerras, e os exércitos foram dissolvidos em populações frustradas, mesmo os vencedores estavam de alguma forma perdidos. Vagavam pelas ruas e escarpas sem suas bandeiras, sem seus generais ou suas metas de morte, chegaram até cachoeiras e preciptavam-se um a um porque terminou o tempo de pelear, o triste fim de seus motivos trouxe-lhes o sepulcro para carregar, e tão pesado era o significado vazio que as cachoeiras eram transformadas em imensos lagos sem fundo.

Os homens iam caindo, um a um, um sobre o outro, fazendo estrondos terríveis como casas demolidas no inferno de canhão, e depois dessas homenagens a si mesmos dormiam um sono profundo sem que pudesse qualquer vontade de vida acordar. Chegavam mais e mais desses pobres homens desempregados, traziam consigo mais peso e mais profundidade ao lago criado, o buraco avançava procurando Satã e não havia água que chegasse à beira, o despenhadeiro ficava cada vez mais alto, até que o último soldado se aproximou e sentiu a brisa fria que vinha de dentro, já não se ouvia mais onde a água caia, e nenhum estrondo sobrou em eco, tudo houvera enfim terminado, sobrando somente esse derradeiro homem, já sem sua família de batalha, e ele se sentiu tão plenamente leve que poderia sobreviver a si mesmo, não havia mais testemunhas de seus anos de bravura, glória e manchas desonradas, enfim um lago verdadeiramente fundo engolira todos os gritos e medos que provocou, na terrivel sepultura ele via seu nome ser gravado com a letra de cada bom homem que morreu.

Antes de se afastar para retornar a uma qualquer vila preocupada com os velórios de seus passados, acendeu uma vela na beira mais ousada do penhasco, a parafina corria quente pelo braço de fogo, e se aventurava cadente no sentido da queda d'agua, e ao término de tudo haveria de encontrar um rosto arrependido mas sem chance de chorar, para continuar seu caminho e petrificar-se no frio de um corpo sem os calores de guerra, uma gotícula de cera como último disparo contra quem que ali restava sem nenhuma homenagem justa a seus fins.

Escreveram sobre os exércitos os povos seguintes, escreveram até não mais valer a lembrança, e relembraram de um jeito que revivia mortos, e mortos iam brotando como de sepulcro as cachoeiras, para ficar pesado todo o mundo, nem mais velas serem acesas, ou a história poder ser nova. As lembranças então foram fabricadas para ninguém tê-las, tudo virou uma só cova, e enfim a água chega à beira.

sexta-feira, 11 de abril de 2008 - 17:39
 


Cartas à Sinceridade
 
Eu duvido que em mim haja melhor vértebra que as muitas colecionadas em teu nome, eu sou um esqueleto de princípios, e esse me faz andar seguro no horizonte do nosso destino.

Não há melhor estrutura, volto a lhe dizer, não há! Mas também tenho que admitir o quanto me envergo uma vez lhe tendo dentro de mim. Quando assim estou, guardo o medo de parecer ridículo diante dos outros aprumados, dos outros preparados para ver a Verdade de frente.

Tenho também inveja dessa gente ao meu redor que sinceras são. Homens e mulheres, numa contagem escassa, mas de uma significância infinita, uma vez em suas simplicidades me deixam apavorado, eu achando que meu governo pessoal não hasteou certo o mastro em nome da bandeira, e agora me recolho por baixo dos panos dela, tentando se proteger numa sensação de idolatria à causa da sinceridade, ao invés de fazer o certo e abrir o peito na reverenciação à virtude.

Guardo sim, todo o peso do mundo por não ser sincero o quanto gostaria, talvez porque eu esteja envergado demais e seja fácil pedir licensas para se esconder, eu não teria outra forma de explicar, afinal não é para todo mundo a beleza de se pagar o preço de estar diante de tudo.

Minhas palavras vão até você Sinceridade, mas eu mesmo sei que não é suficiente ser sincero contigo, vão até você no entanto, querendo ser enviadas de verdade a mim, talvez eu tenha medo de abrir a correspondência como já tenho em avançar com cada palavra, e eis cada uma delas aqui, endereçadas a ti como primeiras mãos antes das minhas, como uma mãe que recebe uma carta sobre o filho, e na verdade se sente carregando a mensagem agora na voz que realmente pode ser escutada.

Eu sou assim, poético comigo, penso que se tratar as palavras com algum capricho estilístico vou torná-las mais audíveis ao meu senso de realidade, mesmo parecendo tão doida a idéia, pois seria também honesto e eficiente ser direto e prático, ainda assim, com toda minha inclinação em direção ao cheiros mais baixos, prefiro a poesia ao ler os fatos.

Eu estou errado Sinceridade? Responda-me! Eu estou errado?

Vamos combinar que as palavras foram enviadas, que é tua vez agora de trazer em sua boca a mensagem que lhe enviei, pode ser dito a mim com poesia ou sem ela, mas eu preferiria com, diga-me sem medo de me assustar, pois sei que a coluna dentro de mim é fraca porém real, ela saberá segurar os pontos mais pesados dentro do meu nome e significado.

Eu vou ficar esperando, selado com endereços firmes, carregarei essa carta por muitos metros e quilômetros dentro do horizonte nosso, um dia abro minhas mãos, e a tiro do peito protegido, colocarei numa caixa de correio, achando que daqui por diante andará com as vértebras que eu não consigo carregar a coragem em tudo que se diz de mim.

quinta-feira, 10 de abril de 2008 - 11:33
 


A Arrogância dos Inocentes
 
Não estou vendo os cavalos que tinha, deixei a porteira aberta? Ou por idade dos meus inimigos suas almas vieram na penumbra e soltaram minhas idéias? Onde foram parar minhas respostas cheias de força? Será que galopa com outros na rédia delas? Ou foi mesmo um atentado ao meu direito de ser inocente? Dormi e deixei que entrassem em mim? Deixei que falassem que não tenho o direito de ter cavalos e opinião? Quem matou meu espírito jogando seus anos para dentro dele e disse-me que sou arrogante? Quem veio na penumbra e por ela só aparece? Eu não tenho sombra, mas meus cavalos estão galopando por onde? Minhas idéias escaparam de noite, bem sei, eu nem vi quem jogou os anos para cima de mim, não vi quem me acusou de ser petulante demais, não vi, quem foi? Certo é que minha inocência galopa em meus cavalos, e meus animais pastoreiam-se nas opiniões de meio mundo, sem sombra de dúvida e à sombra de todo pensamento mais elevado, mas agora, por onde andam minhas idéias? E também quem veio a mim me abrir e esvaziar-me da minha luz interior? É a penumbra por onde se anda o ladrão que veio me roubar os cavalos? Eu não sei, você seria inocente ou arrogante em me dizer?

sábado, 5 de abril de 2008 - 02:05

            Lopes Castro Gustavo


 
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