Águas Sujas
 
Fiz de lama umas tábuas para jogar de iscas aos teus peixes mortos, sinto que o cardume de tuas histórias está procurando o ar de minha inocência, e tuas caveiras beiram teus olhos. Mas fiz de lama tudo que você poderia chamar de medo em mim e tome cuidado porque atiro em você cada peça que faço, vou fazer de seu chão sagrado - essa bacia de inveja - uma caixa de mármore, com cruz e mamíferos marinhos vou deixá-lo preso em sua sepultura. E um acordo entre eu e a chuva ficou travada sua vida numa seca sem fim, quando os ossos de seu espírito pesarem menos que as âncoras amarradas em seus pés eu vou soprá-los contra a tempestade que nascerá de cada covardia revelada, guardei nos confins do perdão não dado um alimento terrível para teus peixes sedentos de meu sangue, darei a eles o mesmo veneno que por aí exalas em seu hálito.

 E ouvi da vingança nos exércitos de mandíbulas enlouquecidas:

 "- Da terra molhada com seu fel virá minha argila."

sábado, 21 de julho de 2012 - 14:44
 


Lótus
 
Eis que o rio a passar em mim banhou-se em águas de outro, e esse outro purificou-se antes em mais um e esse um em algum lugar ainda mais limpo, os dias chegam a cada instante limpos como as pétalas de lótus sobre as sombrias profundidades dos ontens, e essa melodia suave escutada pelos insetos do pântano sem transformá-los em poetas vem ao meu ouvido, fico encantado ao beirar o leito dos desapegos, um silêncio deixa os barcos passarem, uma jangada de revelações carrega para longe a frustração de antes, deixa comigo no entanto, a razão de ser dos vaga-lumes, ao meu redor e da flor amanhecida eles se aprontam para se esconder atrás do olhar sobre o olhar.

 Das lamas esquecidas no fundo de tudo ouvi:

 "- Semente boa é aquela que faz brotar águas."

sexta-feira, 20 de julho de 2012 - 05:58
 


Trevo de Quatro Folhas
 

Acariciei os ovos de dragões que guardo escondidos nas terras fósseis abaixo de meus pés, também fiz tranças nas crinas envelhecidas de unicórnios que minha avó domava, trouxe para amigos um brinquedo de achar constelações, outrora diversão de míticos alquimistas, e quando estava para dormi levantei a mão e atarraxei uma nova lua no céu. Das ideias que tive antes abri gavetas nelas, e a cada descoberta foi um parto de novos caminhos, e de tantos que eram vi neles uma escadaria, por onde desci atrás de quem não tivesse medo de novas ideias, mas não achei, desse sonho meu - um sonho obstetra - li uma verdade escrita em papel-cortiça, pele de árvores lendárias:

"- Existe o medo de novas ideias, há também o pavor, os que preferem ter nenhuma, os que acham que carregam consigo algo inovador, e quando há sorte muito grande, de repente vem o sol em esplendor, eis um trevo de quatro folhas, que deixou de folhas sê-las, para com algo novo ser flor."

quinta-feira, 12 de julho de 2012 - 19:41
 


O Nadar
 
O poder não é aquela caravela corajosa no mar revolto, nem o submarino forte com o pesar das águas em suas costas, menos ainda os diques retentes do oceano e suas ansiedades por antigas praias, não, o poder é nadar como um golfinho enquanto o horizonte explode em tempestades ou em bravatas entre piratas e impérios.

E ouvi das âncoras abandonadas no fundo frio de tudo sobre ter ou não compromisso com o dominar:

"-Aqui estamos, pois algemamos os navios em suas vontades de vencer o mar!"

segunda-feira, 9 de julho de 2012 - 11:10
 


Muro de Fogo
 

Vamos levantar um muro de fogo, ao redor de tudo que nos mantenha jovens, pode ser aquela lembrança ou esperança, aquela coisa que só vale para a gente, eis uma guerra digna, afinal a ignorância alheia pode nos tirar nosso lastro divino - nosso significado - vamos nos proteger para todo sempre o quê nos separa dos demais, mas escute também o outro chamado: vamos atravessar essa fronteira de chamas e carregar conosco somente nossa pele, deixemos todas roupas e máscaras caírem no meio do nada, incendiados por uma sanha de honestidade, nus e ardidos vamos ao refresco dos peitos abertos às brisas nascidas entre os ventos e tempestades.

E ouvi dos sentidos das coisas:

"- A alma da inspiração é o corpo que lhe dá caminho."

sexta-feira, 6 de julho de 2012 - 20:14

            Lopes Castro Gustavo


 
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