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A Lâmpada
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eu sou um caçador de tesouros, estou atrás de uma lâmpada fabricada nos primeiros anos no século xx, a quero para minha varanda - que é mais um dos meus artefatos colecionados - e vou deixá-la sem lustre, acesa apenas na rosca de si mesma, a iluminar através de sua cortina de poeira - que deixarei intacta - não limparei um centímetro de sua história, não apagarei a lembrança do calor na pele da moça branca, ela passou roçando as cortinas da janela e viu o sol queimar a tristeza e a distância. com a revelação desse tesouro vou acordar as memórias nas farpas da madeira, essas tábuas várias vezes pintadas entre as décadas. falo então: eis meu emprego de espírito e vocação de bravura, vou correr mundos americanos atrás desse fio iluminado, procurando as gerações de patriotas prontas para acordarem diante de mim, eu e elas estamos todos à procura dessa antiguidade maravilhosa, desse museu secreto onde será minha morada, nós, todos nós, somos ansiosos pela construção de uma história com árvores centenárias em florestas boreais, comprometo-me ser aquele a iluminar do próprio eixo a escuridão derramada da noite,também aproximar contos verdadeiros sobre lendas esquecidas, como numa fogueira excita-se as faíscas para o céu em vôos suicidas. vou encher de estrelas as últimas horas da madrugada, e quando a manhã vier embriagada no próprio perfume, darei sinal de vida, acendendo-a na vontade de morar em tua varanda tão minha.
sexta-feira, 23 de maio de 2008 - 23:09
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